Há alguns anos, Nélson Rodrigues cunhou uma frase lapidar: "O Brasil é a pátria de todos os equívocos. Todas as idéias que faliram no mundo vêm para cá e triunfam."
Extremamente verdadeira - e triste - esta afirmativa nem sempre foi o retrato fiel do nosso país. Já fomos uma nação que ombreava com a elite mundial por suas potencialidades e pioneirismo; era o Brazil da monarquia de D. Pedro II, do Barão de Mauá, de Rui Barbosa, de Santos Dumont, de Pereira Passos e "O Rio que queria ser Paris", do tempo dos Estados Unidos do Brazil.
De lá para cá, da Monarquia à República proclamada por cima de um ato tão cruel e injusto que chega a ser obsceno ao depor D. Pedro II - um homem brilhante e apaixonado pelo nosso país - até transformar-se na República Federativa do Brasil pelo capricho tedesco de Ernesto Geisel, acumularam-se décadas e mais décadas perdidas entre equívocos, atos golpistas, má-fé e uma tendência quase endêmica à corrupção política.
Da Constituição do Brazil Império à atual Carta Magna alcunhada por Ulisses Guimarães de "Constituição Cidadã" - uma delirante colcha de retalhos que intenta prever tudo e termina por perder-se na prolixidade e acumular mais de 140 emendas em 36 anos, um descalabro no confronto com a Constituição Americana e suas 26 emendas em mais de 200 anos - a cada nova Carta promulgada (foram cinco republicanas e apenas uma, em 1824, do Brazil Império), mais e mais o povo foi sendo alijado, tutelado e mantido refém de um Estado crescentemente covarde e totalitário.
Como resultado dessa histórica anomalia política, dessa compulsão pelo poder que tem movido egos incontroláveis no comando dos destinos de nossa pátria, alcançamos o século XXI vivenciando a tragédia sanitária resolvida pelo mundo no século XIX, apenas para citar um dos abjetos números negativos colecionados... Há muito mais. Alguns são apenas conseqüência dessa citada, como são as falências da Saúde e Educação. Outras vêm a reboque daquela seqüela que uma corrupção política sem freios promove diuturnamente e um sistema judiciário permeado por um profundo aparelhamento ideológico acoberta sem pejo.
Assim chegamos aos tempos atuais com nossa pirâmide etária invertida, uma geração de jovens idiotizados por um sistema educacional perverso alicerçado em duas fontes falidas (Piaget e Paulo Freire) desprezadas por países sérios há mais de cinco décadas e uma sociedade cujo QI médio é abaixo da média mundial, praticamente no nível da debilidade mental, o que nos condena ao atraso pelos próximos trinta anos ou mais, visto que são necessárias três gerações para reverter tal quadro e isso partindo de um pressuposto de que hoje adotaríamos conceitos sérios na educação.
Soma-se a tudo, um presente em que o Estado incensa o criminoso enquanto penaliza o cidadão de bem ao tratar o primeiro como "vítima da sociedade" enquanto ao último cabe pagar a conta.
Pensar que a Inconfidência Mineira se deu pela revolta contra o "quinto dos infernos" (uma carga tributária insuportável à época) e hoje pagamos cerca de três quintos em tributos, quase bovinamente, o que nos leva a perguntar: Como foi que o brasileiro se tornou tão desprovido de brios, lucidez e capacidade de reação diante do caos?
Neste Brasil descaracterizado de suas origens, com desprêzo absoluto pela sua cultura, vendo o idioma ser destruído gradualmente por uma seqüência canhestra de pseudo reformas, o cenário é desolador; quase 70% de analfabetos que se dividem em categorias amorfas (analfabeto, analfabeto funcional, Elementar incompleto, Elementar completo) cujas diferenças são imperceptíveis na prática, já que nenhuma é capaz de ler e compreender um texto e o resultado é a baixa capacidade cognitiva e laboral dessa juventude que deveria alimentar uma cadeia produtiva, mas é uma geração nem-nem (nem estuda, nem trabalha e nem está afim, mas deseja tudo que só o trabalho digno pode oferecer).
Para quem é capaz de discernir todos os dados e fatos que construíram a cena em que hoje estamos, fica simples perceber que houve método, foi um trabalho minucioso de aplicação dos decálogos de Lênin (em primeiro estágio) e Gramsci (no segundo e definitivo) para alcançar essa amoral "democracia relativa" que, de fato, nada mais é que uma ditadura, um regime de esquerda sob os mais variados nomes e disfarces que vão do simples comunismo ou socialismo até o progressismo e o globalismo, com uma parada semântica na irreal "social-democracia".
Seja como for, o Brasil tornou-se um Estado Narco-traficante, país em que as leis são moldadas à conveniência dos criminosos hoje associados ou mesmo alojados nas diversas camadas da estrutura de poder e que mantém os cidadãos de bem, os que pagam todas as contas, a cada dia mais cerceados em suas liberdades, escorchados tributariamente, mudos pela censura crescente em todos os meios de comunicação fora da mídia cooptada, desarmados por uma decisão que contrariou o resultado de um plesbicito específico e que ainda viu ruir sua confiança nas FFAA que se entregaram àqueles que sempre os desprezaram.
Mesmo em sua paralisante sensação de impotência diante de um Estado que tudo pode e tudo lhe subtrai, a sociedade brasileira despertou de um sono alienante, graças às redes sociais e ao livre curso de opiniões que nelas transitam, mas ainda lhe falta perceber e abraçar as ferramentas que permitirão reverter tal cenário mesmo sendo oprimida em várias frentes.
O exemplo da sociedade norte-americana pode e deve ser abraçado. Foi a formação de uma consciência coletiva construída de baixo para cima, no seio da família, da escola e das comunidades de bairro que, pela intensa participação nas decisões que afetam as liberdades individuais e aquelas estruturas morais da própria sociedade, permitiu o crescimento do espírito estoico que mantém a grandeza dos EUA e impede sua ruína apesar de todos os ataques que sofre.
É pelo mesmo caminho que devemos fortalecer nossos círculos mais íntimos e espalhar mais e mais ferramentas que tragam solidez mental, informação e conhecimento histórico para alimentar a assembléia de vozes que maximiza nosso intelecto.
Não há saída fora da jornada de crescimento intelectual do brasileiro; não é possível resistir aos avanços de um Estado sitiado por bandidos, sem que haja uma participação forte e permanente da sociedade nas associações de bairro, nas reuniões de pais e mestres das escolas, nos Conselhos Tutelares e, mais ainda, nos diversos canais de acesso àqueles que deveriam nos representar dentro das estruturas de poder, mas que em tantas oportunidades demonstram atuar em causa própria à revelia do povo que os elegeu.
É vital afirmar, diária e incessantemente, que o poder emana do povo, pelo povo e para o povo. Está no povo, na sociedade em sua essência, a origem do Estado como elemento criado por ela para organizá-la e ordená-la sob normas e códigos civilizados, não para tomar-lhe os destinos ou impor tutelas, não para monopolizar decisões ao arrepio do ordenamento legal como temos visto ocorrer rotineiramente em nosso país.
O passado é inerte, não pode ser alterado, mas deve ser conhecido, estudado e prover bons exemplos.
O futuro não existe fora das conseqüências de nossos atos e, por isso mesmo, o único tempo real é o presente. Saibamos usá-lo sem esquecer o passado, mas não sucumbindo aos equívocos cometidos. A sabedoria é fruto da vivência, o conhecimento resulta do estudo, do livre pensar e da liberdade de expressão sob todas as formas.
Podemos voltar a ser Brazil, só depende de nós.