Muitos anos vividos no ambiente da aviação permitem enxergar certas discrepâncias nos relatos desse "acidente" que mudou o cenário político nacional. Aliás, pelo que foi possível saber, mudaria ainda mais profundamente caso estivesse a bordo aquela que, à última hora, desistiu de embarcar... Teria sido algum resquício dos tempos, digamos, mais vermelhos que sopraram-lhe idéias ou tudo não passou de fortuna coincidente?
Claro que surgirão as mais incríveis teorias, haverá fumaça por todo lado e, também, doses maciças de fatos mal explicados ou nem isso. De qualquer maneira, uma coisa é certa: poucos saberão o que realmente ocorreu e esses nada dirão por décadas. Afinal o que se pode esperar de um país que até hoje não conseguiu saber o que passou com um atleta na França, nem mesmo pelo próprio? Os corredores do poder e as paredes palacianas desde sempre fazem sepultas as verdades incômodas, tanto quanto são berçário de teorias conspiratórias, muitas delas tornadas ações à luz do dia e sob os auspícios da lei; aí estão os mensaleiros libertos e sorridentes em sua rápida mudança de regime tão logo foi eliminada a resistência solitária de um raro Quixote.
Uma caixa-preta sem gravação! Mais estranho ainda, encontrada em tempo recorde depois que um avião explode antes de cair, mas de tal forma que nada sobra, nem mesmo arcadas dentárias. Por alguma razão imagens de outras tragédias políticas obscuras vêm à mente... Celso Daniel, por exemplo. Talvez seja mero acaso, mas as digitais de uma certa estrela aloprada parecem surgir de novo e malfeitas...
Uma pergunta paira no ar - ao contrário da aeronave que deveria ali sustentar-se - e incomoda o raciocínio político: uma radical traída ontem, hoje tomada de fervor religioso e ecológico, sentirá um certo temor pelo amanhã ou apenas terá a certeza de boa colheita com os amigos de sempre? Se de fato distante de suas raízes e até por tão bem conhecê-las, o normal seria que recuasse. Se verdadeiramente aspirar a derrota daqueles que deixou para trás, sua missão seria tornar una a força de oposição, nunca seguir dividindo-a. A questão é conhecer propósitos neste cenário político torto onde quase todos se afirmam à esquerda e o pensamento liberal é rotulado de fascista. A questão ainda maior é saber o que deseja essa herdeira em cujo DNA seguem ainda indeléveis as marcas petistas agora agravadas por sua eco cruzada e seu palavrório incompreensível. O que esperar de quem apóia o infame Decreto 8.243? Ou de quem defende usinas a fio d'água em detrimento das mais eficientes que dispensam a boa vontade de São Pedro? Com pouca margem de erros, a sensação é de que aí só existirá mais do mesmo e nem a cor será diferente na bandeira ideológica...
Há espaço para um movimento que reconduza o país ao viés democrático que permitiu os poucos avanços institucionais que vemos esfarelar-se nessa aventura petista; há, ainda, vestígios de lucidez e de algumas luzes republicanas na herança genética do outro neto que poderiam acolher o mais tímido sinal, a mais leve brisa de esperança que trouxesse a moralidade de volta à ordem do dia. Imaginar o Brasil abraçado aos devaneios cubano-bolivarianos da malta vermelha é vislumbrar a certeza da falência absoluta de valores e ver triunfar a mentira, o atraso, a tutela anacrônica do totalitarismo, a metodologia da ignorância como ferramenta de controle, a esmola como benesse, o caos pintado de paraíso.
Enquanto a sociedade da excessão, esse contingente espremido da classe média real que se mantém às margens da riqueza, mas a sustenta e financia à custa de seu trabalho diário, mantiver seu estupor conformista e permanecer calada diante da rapina despudorada desses que crêem poder "fazer o diabo" sem enfrentar resistência, nada mudará.
O passado já registrou mudanças no comportamento coletivo. A história recente mostra o quanto é forte a voz das ruas quando ocupadas por quem pensa sem as amarras da propaganda, por quem sente no bolso o preço da fantasia que lhe é vendida e vê seu futuro cada dia mais distante, cada dia mais irreal. Mais do que nunca é hora de reagir e retomar as rédeas da vida, exigir o que deveria ser dado pelos impostos pagos, poder sair sem temer pela vida nas cidades já sitiadas há muito pelo crime impune que se espelha na indecência palaciana. É hora de mudar os rumos desse país abençoado antes que seja tarde demais e o amanhã já não exista com liberdade.
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