sábado, 13 de setembro de 2014

UMA SOCIEDADE AMORFA, ANESTESIADA E AVÊSSA A VALORES MORAIS

O que vemos hoje a nossa volta, em meio a uma saraivada de escândalos dos mais variados calibres, é um verdadeiro pós doutorado da arte da manipulação. 

O retrato em preto e branco do arcabouço político é uma cena dantesca que se faz acompanhar das mais canhestras contribuições de uma imprensa quase que integralmente a soldo do ideário das esquerdas. 

No universo virtual, aqui e ali de forma apenas pontual e relativizada, percebe-se ainda algum resquício de raciocínio e de integridade indignada, mas é grão de areia em um oceano de venalidades que faz banais e ridículos os estertores da moralidade resistente.

Nas mídias televisiva, escrita e falada dos grandes grupos, a manipulação da informação segue os preceitos das pseudo pesquisas em que números colidem com o mundo real, distorcem o óbvio dos fatos cotidianos e desenham um mundo de colorido falso. A cada gota de fel, a cada centelha de caos que se descobre, um novo e espêsso manto de contra-informações se encarrega de turvar a visão de todos.

Fôssemos uma sociedade equilibrada, houvéssemos desenvolvido um coletivo sob as luzes do conhecimento, seria exequível um surto de reações pautadas pela lógica de seu esteio moral, mas o que se percebe é uma profunda alienação, um triste e inaceitável distanciamento desses valores que parece corroer suas bases fundamentais e termina por pautar uma abominável catarse coletiva.

Houve um instante de nossa história, ainda no alvorescer dos anos 1900 e do pensamento republicano, em que timidamente se impunham os valores universais dentro da escola que, àquela altura, embora não alcançasse inteiramente seu universo, era calcada em propósitos justos e meritórios; mais que isso, o banco escolar cumpria sua missão e escolarizava os alunos. 

O passar das décadas, somado ao crescimento gradual e jamais interrompido de equívocos tão perversos e mal intencionados quanto a maioria dos representantes camerais, encarregou-se de nos conduzir criminosamente ao cenário atual. Hoje vemos uma escola que, sobre a falência da sua missão primeira de alfabetizar e preparar o jovem para o mundo produtivo, peca também na manutenção daqueles valores, cede ao comodismo da leniência disciplinar, desiste ideologicamente do mérito e se vê auxiliada nesse fracasso pela moderna famîlia ausente do compromisso de educar. O resultado se revela na sociedade anestesiada, idiotisada, despida de valores morais e completamente dormente que se estabeleceu no país.

Consequência desse imoral e amoral balisamento, assistimos hoje a um quase irreversível processo de anacronismo atávico que nos condena à contramão da história universal, que nos coloca ombreando a nata da escória política do mundo, que dá a cada brasileiro - principalmente aqueles poucos e cada vez mais raros que pretendem um país capaz de enfrentar e vencer desafios com dignidade e competência - uma parcela pesada a pagar pelo acúmulo de êrros sucessivos. 

Somos uma nação condenada pelo imobilismo mental. Pouco ou nada importa a parcela proativa resiliente; a força dessa inércia intelectual, o caos advindo desse parco teor das capacidades cognitivas da massa dominante é amplificado pela malidicência, pela vulgaridade, pela corrupção arraigada nos mais íntimos desvãos de uma classe política que mais e mais se notabiliza pelos desvios de caráter. 

Se um dia tivemos a esperança a nos confortar pelas palavras e ações sempre sábias e exemplares de um D. Pedro ou de um Rui Barbosa - são os dois bastantes para ilustrar - no seio da sociedade brasileira, o presente nos deixa amarga a boca e sangra o coração dos virtuosos. A realidade nua e crua que nos acorrenta é um soco no futuro, um vaticínio do amanhã de cores opacas que nos aguarda.

Uma sensação doída de cansaço, uma incômoda impotência surge quase que indomável dentre aqueles desejosos de outro futuro e parece traçar o destino de todos, apesar dos solitários quixotes lançarem-se contra esse gigantesco moinho.

Apossando-me geneticamente das palavras de meu irmão João Guilherme, desejaria que mais e mais cidadãos recusassem o papel do bambu que se verga e lambe o chão nas tempestades e se unissem a nós que assumimos a identidade do carvalho que só vai ao chão se morto com suas raízes.



segunda-feira, 1 de setembro de 2014

NADA PARECE MAIS ESTRANHO QUE A REALIDADE...



Nesses dias de intensificação e recrudescimento de campanhas visando ao pleito que se avizinha, vemos, lemos e escutamos de tudo um muito. Há desde mentiras deslavadas até hipocrisias das mais inacreditáveis. Lobos e cordeiros, se ė que estes existem nessa seara, trocam de pele, trocam matilhas e rebanhos, trocam até afagos... Apenas seus propósitos seguem os mesmos, todos buscando manter-se ou agarrar-se àquelas benesses que enxergam no poder ou creem a êle ser inerente.


O curioso nesta história, ainda que por nada surpreendente, é esse olímpico abandono de qualquer discussão programática, estrutural ou minimamente próxima de algo concreto, palpável, frente aos desafios com que o país se defronta há décadas.


Não há uma só palavra direcionada ao flagelo da educação de base do Brasil em todas as suas esferas, especialmente em razão do aparelhamento ideológico que domina o setor e do constante afastamento de qualquer pensamento que privilegie a meritocracia no setor. Há simplesmente um bitolamento que nos condena a métodos comprovadamente ineficazes na alfabetização e ainda mais inócuos no degrau seguinte em que os jovens deveriam ser preparados para o mercado de trabalho. Aí se vê construir, impunemente, seguidas gerações de ineptos e inaptos para as empresas, sejam elas voltadas para indústria ou comércio.

O gargalo nacional que manieta nossa produtividade visceja nesse equívoco e as raras vozes que se ouvem não repercutem, pelo contrário, são rotineira e solenemente ignoradas por uma criminosa conveniência: à classe política não interessa uma sociedade mais preparada e capaz de pensar com independência e fundamentos, enquanto à esta parece confortável seguir no papel de coitadinhos, vítimas de má fortuna à mercê deste assistencialismo calhorda que lhes é distribuído à guiza de justiça social. À parte a óbvia conclusão de que a preguiça ou um condescendente espírito de laisser faire, laisser passer permeia nosso povo, o fato é que perdemos seguidas gerações e hoje vemos crescer uma autêntica sub-raça, uma plêiade de nem-nens que vive à sombra da cultura do consumo e das frivolidades, mas não se prepara para sustentar seus sonhos ou participar de um crescimento social que os impulsione. Assim, la nave va...

Por outro lado, enquanto o naufrágio econômico se consolida com as invencionices popularescas do reino encantado petista e sua contabilidade criativa a maquiar números, índices e resultados invisíveis, imperceptíveis na vida real, os iluminados líderes estelares alardeiam seus feitos - inacabados ou pura fantasia quase todos - repetindo  cerimônias de inauguração de coisas que já deveriam ser pretérito, mas seguem futuro...sempre futuro. Ah! Propaganda! O que seria dos déspotas, dos falsos líderes, dos lenientes governos populistas, não fossem as tantas e tão magníficas propagandas e suas igualmente fantásticas verbas...

Que ingratidão! Em um desolador cenário de tíbias oposições, neste triste ambiente de timidez condolente onde deveria haver pulsante e pungente revolta pelo desastre sanitário deste Brasil que se apraz afirmar sexta potência econômica do planeta - mera questão numérica incompatível com os índices mensuráveis no cotidiano - tudo o que aparece é a indômita defesa de um inconstitucional programa de importação de escravos que financia uma anacrônica e fétida ditadura, sob o olhar complascente daqueles que deveriam gritar, mas sucumbem igualmente na farsa midiática. 

Governos deveriam ser proibidos de fazer publicidade de seus atos. Campanhas educativas ou preventivas (nas áreas de saúde, por exemplo) sim, mas não esse circo de Pinóquios a hipnotizar 75% de alienados. Como está, falta pouco para vermos gigantescos cartazes com os rostos retocados dessa corja petralha que nos pilha diariamente. 

Ingratidão? Espere, ouve-se alguma voz que se rebele? Hummm, parece haver uma surdez epidêmica por aí já que nada se escuta além de mesmices, acusações e platitudes. Não, não há ingratidão, o que há, quando muito e bastante, é dormência coletiva. Uma incomensurável dormência da minoritária face culta e produtiva da sociedade, que se mostra de tal forma adormecida ou resignada com o permanente estado de coisas que lhe cerca, que já nem sabe reagir e desiste. 

Essa sociedade já parece escolher o caminho solitário das exceções e fica de costas para tudo; afinal, há ilhas de excelência por todo o país e em todas se vê o distanciamento do Estado, a independência das iniciativas privadas que desprezam os ritos políticos ou as ingerências oficiais e regem seu próprio destino. Aí se comprova a parcela do Brasil que funciona, do Brasil que se destaca e contribui para aqueles números dos quais govêrnos tentam se apropriar como se mérito lhes coubesse. Nada mais falso, essas ilhas existem apesar do Estado, não por suas ações.

Em diferentes mídias surgem "debates" e "entrevistas" nas quais nada de verdadeiro ou espontâneo é perguntado ou respondido, apenas teatro mambembe com narizes e golas distribuídos pela audiência. Resultados os mais diversos surgem de pesquisas "espontâneas" encomendadas nas quais é improvável, se não impossível, o vislumbre do universo em que se insere, a não ser por conta de seus claros sinais de favorecimento desta ou daquela vertente. Tudo se mostra tão contaminado, tão ilusório, que a lucidez necessária às escolhas ditadas pelo raciocínio se faz ausente e alimenta aquela incômoda dormência. Quando haverá uma oportunidade em que questões pertinentes sejam apresentadas e respostas diretas vinculem-se à realidade? Há tempos que essa imagem se revela tão fictícia quanto imaginar real o mundo da propaganda que vemos infiltrarem nas veias do eleitorado menos esclarecido.

Nestes dias de pouca realidade, nada mais familiar que a publicidade da fantasia, essa criminosa e irresponsável aventura do sonho de eternidade que corre na alma política...